Antes
“noticiando” o que tem acontecido do lado de cá:
1.
Estamos muito bem na escola, nos dias
em que comparecemos, é claro. Explicando: a Helena, como toda criança que entra
na escola está se acostumando com a “comunidade” virótica que ali reside, assim
ela, nos três meses de aulas até hoje, ficou doente três vezes e confesso que
neste quesito ficamos até satisfeitos, achávamos que seria maior o número de
intercorrências. Ela continua em “lua de mel” com o ambiente, os colegas,
professora, monitora, mediadora...enfim com tudo, adora ir, ficar e se esbalda
com a liberdade e as atividades que a vida escolar proporciona.
2.
Estávamos comemorando cinco meses sem
crises convulsivas e um avanço bastante significativo em termos de postura,
fala, alimentação e coordenação motora fina, mas esta madrugada ela acabou
passando por um evento convulsivo que esperamos não trazer grandes regressos. Daí
veio parte do assunto de que trata este post e inspirou o título.
Vamos
então ao cerne do problema “ser egoísta”. Quando a Helena passa por estes
eventos eu me sinto recebendo “na cara” e não na cabeça, do tipo jogado mesmo,
um balde de água vinda diretamente das profundezas do Mar Adriático (sentiram a
temperatura, né?). E fico pensando depois se tenho mesmo o direito de me
entregar a este sentimento de profunda frustração que me arrebata. É justo, com
ela (Helena), que eu me sinta frustrada, com ela (porque no final não estou
frustrada com a crise, mas com os reflexos dela na Helena)? Racionalmente chega
a ser cruel! Como me sentir frustrada com um evento do qual ela também é uma
vítima? E não adianta apelar para “não fico frustrada com a Helena não! De
jeito nenhum! Fico triste com o que aconteceu...” BALELA!!!! Fico frustrada
mesmo e aguardando uma chance de ver ser houve algum retrocesso e torcendo para
que ela continue evoluindo no mesmo ritmo.
Tiro
então a conclusão de que SOU EGOÍSTA, e isto me frustra ainda mais, vou
explicar porque. Antes que apareçam os que dizem que você como pai ou mãe pode,
e vai, em muitas ocasiões se frustrar com seus filhos, as vezes em situações
extremas como o uso de drogas ou uma vida marginal e criminosa NÃO É A MESMA
COISA! As crianças especiais desafiam nossa capacidade de planejar, das mínimas
coisas aos longos planos, não sabemos se será possível andar, se comunicar,
desenvolver-se cognitivamente e plenamente e, o mais importante serem
independentes. Aprofundando: mesmos que as coisas estejam bem e caminhando além
das expectativas as intercorrências vêm, como fantasmas sorrateiros no escuro,
e nos dão a mais dolorosa e inesperada “puxada de tapete”, nossa vida é assim!
Este
relato, pode-se dizer sentimentalista, não está aqui para provocar piedade ou
compaixão, não mesmo! Não somos uma família digna de dó, ou de sentimentos do
campo da “pena”. Somos verdadeiramente felizes, mas isto não impede que, de
quando em vez, tenhamos o nosso quinhão de tristeza, o que nos difere é que
estamos sempre esperando, vivendo à espreita, à sombra da possibilidade de que “vai
acontecer alguma coisa!”.
E,
também de vez em quando, me sinto no direito de me abater frente a esta
perspectiva de que será sempre assim, estarei sempre à deriva em águas escuras
que não me deixam vislumbrar terra firme porque escondem, em sua turbidez, o
monstro que balança, revolta e movimenta estas águas nos jogando novamente à
deriva...e é nestes momentos que me sinto profundamente e injustamente EGOÍSTA! O que responde então a pergunta do título deste post...ou não!